Já era tarde da noite, estava
tudo muito quieto e escuro naquela praia. Aylan estava com sono e pedia para
que sua mãe o colocasse para dormir. Ela o acalmava, sussurrando que, assim que
entrassem no barco, ele poderia descansar.
O menino não entendia o que
estavam fazendo, àquela hora, no litoral. Ele ouvira conversas de seus pais
sobre uma fuga clandestina, mas não sabia o que isso significava. “Aonde
estamos indo, mamãe?” indagou o pequeno, enquanto caminhavam em direção ao mar.
“A um lugar em que não há bombas, nem guerra, nem violência” respondeu a mãe.
Aylan, seus pais e seu irmão
entraram em um pequeno barco, que também carregava outras famílias. Logo que
começaram a viagem, o garotinho adormeceu. Sonhou com as palavras de sua mãe: Um
lugar bonito e tranquilo, sem barulhos que o acordassem durante a noite, sem
fome, sem dor.
No entanto, seu sono
durou pouco. Sentiu suas roupas molharem, ouviu gritos de desespero. Tudo
aconteceu de repente – o barco começou a inundar, as pessoas ficaram apavoradas
e todos afundaram no oceano. Seu pai o agarrou, junto com os outros membros da
família, mas Aylan escorregou de seus braços, submergindo completamente.
Quanto mais se debatia, mais
afundava – e o garotinho não sabia mais o que fazer. Perdido e quase sem
forças, o pequeno entregou-se de vez ao oceano. Ele sentia a água adentrando
seus pulmões, percebia sua visão perdendo a nitidez. Foi quando avistou, na
superfície, um lugar exatamente como o que sua mãe descreveu. Muito bonito, sem
guerras ou violência. Ouviu o som de crianças brincando e desejou juntar-se a
elas. Sua mãe, segurando o irmão no colo, apareceu ao seu lado, estendendo a mão
para o filho. Juntos, nadaram em direção àquele mundo perfeito.
Alguns dias depois, o
corpo do garotinho foi encontrado por policiais em uma praia. O mundo todo
ficou comovido com sua morte. Mas ninguém podia imaginar as coisas lindas que
ele vira, e a felicidade que sentira ao perceber que, finalmente, havia
encontrado a paz que tanto desejou.
Releitura do conto de fadas A Pequena Vendedora de Fósforos, de Hans Christian Andersen.
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